Mais conhecida por Clélia Rocha, nasceu na cidade de Barra Mansa, Estado do Rio de Janeiro, no dia 18 de outubro de 1886 e desencarnou, com 50 anos de idade, no dia 16 de fevereiro de 1936.

Foi educada como interna do Colégio Bom Conselho, na cidade de Taubaté, completando sua educação na cidade de Piracicaba, onde recebeu o diploma de professora primária. Lecionou durante vários anos no Colégio das Freiras, da cidade de São Carlos. De família tradicionalmente católica, Clélia Rocha logo demonstrou repugnância pelos dogmas da religião de seus pais, o que aconteceu logo em sua primeira infância, originando-lhe sérios castigos no Colégio interno, onde passou a ser considerada criança rebelde.

Em Piracicaba ainda quando estudante, conheceu um jovem médico, com quem acertou casamento. Entretanto, o rapaz desencarnou repentinamente, frustrando todo o seu sonho de menina moça, que nunca mais pensou no casamento, dedicando toda sua vida ao magistério e ao amparo da criança órfã e desvalida. Um dia deliberou abrir um estabelecimento de ensino na cidade de Dourados, para a alfabetização de adultos que não tivessem condições de freqüentar aulas no período diurno, mantendo-o por algum tempo e fornecendo gratuitamente o material de ensino para todos aqueles que não o pudessem adquirir.

Nessa época a grande missionária Anália Franco fez uma visita à cidade e, vendo o sacrifício inenarrável pelo qual passava a jovem professora, convidou- a a fazer parte da sua equipe de trabalho, prontificando-se a ajudá-la no que lhe fosse possível. Dessa época em diante, tornaram-se grandes amigas e mútuas colaboradoras. Fundaram uma Creche para as mães pobres daquela redondeza e um abrigo para órfãos.

Anália Franco depositava irrestrita confiança no trabalho de Clélia Rocha.

Numa das suas cartas chegou mesmo a afirmar: “Você é a diretora que mais assimilou os nossos ideais e muito tem produzido. Se todas as demais cooperadoras fizessem como você, muito realizaríamos”.

Em fins de 1918, Anália Franco fundou um Asilo na cidade de Uberaba, em Minas Gerais, e convidou Clélia Rocha para ser sua diretora. Logo após, no dia 13 de janeiro de 1919, Anália desencarnou em S. Paulo, não podendo concretizar a obra. Clélia, fiel à sua memória, respeitando a sua última vontade, deliberou transferir-se para Uberaba, com todas as suas pupilas, fundando mais tarde naquela cidade um Colégio com 18 pensionistas, para manter as suas 72 alunas internas. Diante de sua obra assistencial pleiteou por várias vezes subvenções municipais, estaduais e federais, nunca conseguindo ressonância para as suas petições, pois, pelo fato de ser espírita, intensa perseguição lhe foi movida pelos sacerdotes locais.

Como Anália Franco, organizou um Conjunto Lítero-Artístico e Musical, com as próprias pupilas e demandou as cidades do interior dos Estados de São Paulo e Minas Gerais, conseguindo meios de subsistência para manter o seu estabelecimento, tendo para tanto alcançado algum êxito.

Fiel à memória de Anália Franco, tudo fez para que os ideais por ela esposados fossem mantidos em toda a sua plenitude, conduzindo-se sempre com verdadeiro espírito de abnegação e sacrifício, atestando sempre a sua grandeza espiritual.

Fundou com suas pupilas maiores de 16 anos a Liga Feminina Operárias do Bem, objetivando a formação de novas equipes de cooperadoras que pudessem mais tarde dar continuidade ao seu grandioso trabalho assistencial. Em 1924 transferiu-se para a cidade de São Manoel, no Estado de S. Paulo, onde conheceu Amando Simões, rico fazendeiro da região, espírito bem formado e coração generoso que, conhecendo as suas grandes dificuldades e estóica coragem, resolveu ajudá-la, fazendo a doação de um prédio e parte de seu terreno para que ali Clélia pudesse instalar o seu estabelecimento educacional. Graças ao prestígio desse abnegado confrade, contou logo com o concurso de parte da população e a simpatia da Câmara Municipal, podendo desta forma ampliar a sua obra beneficente. Acolheu no “Lar de Anália Franco” dezenas de crianças órfãs e ali realizou numerosos casamentos de suas exeducandas, entregando-as ao mister de donas de casas, reintegradas na sociedade, para servirem como esposas e como mães.

Em 1930, na época do Natal, fundou a “Creche Berço de Ouro”, destinada a receber as criancinhas, mantendo-a com todo o carinho de sua alma.

Era espírita fervorosa e muito se interessava pelos assuntos doutrinários.

Como Anália foi literata, jornalista, poetisa, escritora, teatróloga, musicista e professora de línguas. Escreveu várias peças para teatro; dramas, comédias e enquetes de sua autoria foram encenadas com muito êxito no Grupo Teatral. Apresentou ainda muitas poesias e composições musicais.

Exímia professora de trabalhos manuais, ministrava aulas de flores artificiais, pinturas, bordados, arte culinária e música, preparando suas filhas adotivas para tornar-se prendadas donas de casa do futuro.

Na intimidade era chamada “Mãe Lili”, por todas as suas filhas adotivas.

Deu o seu próprio nome a muitas delas, quando enjeitadas na “Creche Berço de Ouro” e não apareciam os parentes. Tendo que regularizar os seus registros civis, não hesitava jamais, registrava-as com o seu próprio nome.

Fundou o jornal literário “Lírio Branco” e o “Mensageiro do Órfão” hoje “Mensageiro do Lar”, órgão de divulgação do Espiritismo, que continua a ser editado nas oficinas gráficas do Lar Anália Franco, na cidade de S. Manoel.

Clélia Rocha foi, portanto, uma missionária na verdadeira acepção da palavra, pertencendo à plêiade de valorosas mulheres espíritas do mesmo nível de Anália Franco, Olímpia Belém, Aura Celeste, Eurídice Panar, Abigair Lima e tantas outras.

(Subsídios fornecidos por Antônio de Souza Lucena)

Godoy, Paulo Alves. Da Obra: Os Grandes Vultos do Espiritismo. Edições FEESP.